Cidades e transportes

Fórum debate na Câmara mudanças na gestão de recursos hídricos para enfrentar crise

Presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano vê risco de conflitos sociais em disputa por água em grandes centros urbanos. Especialista aponta sucateamento das empresas de saneamento

13/09/2017 - 14:35  

Billy Boss/Câmara dos Deputados
Fórum interativo de desenvolvimento urbano para debater a crise hídrica no Brasil, as causas do fenômeno, suas consequências e alternativas para a população. Sociólogo, Edson Aparecido da Silva
Mesa do fórum: a urbanista Mirtes Luciani , o deputado Givaldo Vieira e Edson Aparecido da Silva, do Fórum Alternativo Mundial da Água

A escassez de água para consumo humano é mundial e se agrava a cada dia. Só no Brasil, aproximadamente mil cidades se encontram neste momento em situação de racionamento. As causas do problema são muitas e podem ser naturais ou humanas. Já as soluções passam por toda uma revisão de cultura, que envolve a administração do recurso pelos governos, o planejamento das cidades e o uso que cada pessoa faz do líquido. A média brasileira de consumo de água é de 154 litros por dia por pessoa.

A crise hídrica foi o tema de um fórum realizado nesta quarta-feira (13) na Comissão de Desenvolvimento Urbano em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, dentro da série de encontros “A Cidade é Nossa”, proposta pelo presidente da comissão, deputado Givaldo Vieira (PT-ES). Participaram da discussão o sociólogo Edson Aparecido da Silva e a arquiteta e urbanista Mirtes Luciani.

“A crise atinge todo o território, tem impactos sobre a agricultura. Mas na cidade tem uma dimensão bastante dramática”, observou Givaldo Vieira. Ele disse que a escassez de água pode mesmo levar a conflitos sociais de disputa por água em grandes centros urbanos. “Nas cidades, está um contingente muito grande de pessoas que amplia essa margem de risco.”

O recorte dado pela arquiteta Mirtes Luciani ao problema foi urbanístico. Segundo ela, a falta de água decorre da impermeabilização do solo urbano, impedindo a passagem da água; da transformação dos rios em valas de esgoto a céu aberto; e da destruição das matas ciliares, que deveriam ser mantidas mesmo dentro do tecido urbano.

“A gente não pode mais fazer cidades que são um maciço de concreto, onde você destrói as bacias de captação de água. Você tampa os cursos d’água, você polui e diz: o problema não é comigo, vamos resolver isso mais para a frente”, afirmou.

Gestão
Integrante da coordenação nacional do Fórum Alternativo Mundial da Água, o sociólogo Edson Aparecido da Silva disse que uma das causas da crise hídrica é a gestão do recurso. “Os operadores de saneamento têm cada vez mais buscado atender à demanda por água, sem olhar a oferta. Cada vez mais, vou buscar água mais longe, fazendo grandes obras, sem investir em uma nova cultura da água, de adequar a demanda à oferta desse bem, que não é infinito. A população cresce e o aumento do consumo de água cresce mais do que a população”, listou.

As empresas de saneamento, acrescentou o sociólogo, têm uma visão de vender cada vez mais para ter mais lucro, priorizando contratos com grandes consumidores, como shoppings e condomínios. Outro problema, segundo Silva, é o sucateamento dos operadores, com perda média nacional de 40% da água tratada nas redes de distribuição.

Na avaliação de Edson da Silva, o enfrentamento da crise hídrica passa, entre outros pontos, pela integração entre as políticas de habitação e ambiental, com medidas como o fornecimento de caixas d’água à população vulnerável ou a construção de reservatórios coletivos de água em comunidades com grande concentração de famílias.

Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Roberto Seabra

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