Cidades e transportes

Deputados e especialistas em urbanismo cobram do poder público qualidade das calçadas

24/10/2014 - 19:13  

Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados
Painel 3 - Palestrante: Professora da UNB,Ana Paula Borba
Ana Paula apresenta diagnóstico das calçadas em grande parte das cidades do Brasil e os riscos para a população.

Deputados e especialistas em urbanismo cobram mais responsabilidade do poder público quanto à qualidade das calçadas brasileiras. A discussão ocorreu no Seminário Internacional de Mobilidade e Transportes, em parceria da Câmara com a Universidade de Brasília encerrado nesta quinta-feira (23). O tema é alvo de projetos de lei, debates e estudos da Câmara.

Arquiteta e pesquisadora da UnB e da Universidade de Lisboa, Ana Paula Borba revelou o diagnóstico das calçadas em grande parte das cidades do Brasil e os riscos para a população. "Há vários problemas: muitas vezes a ausência da calçada, que é o pior deles; o material utilizado; e a falta de uniformidade. Como o poder público não está à frente disso e cada um faz a sua calçada, isso é muito prejudicial para a unidade do passeio para que as pessoas o utilizem com segurança. E todos nós ficamos suscetíveis a quedas e a escorregões. Dependendo do material, (a calçada) desliza quando chove".

Para os idosos e as pessoas com deficiência, os riscos de acidente na calçada são ainda maiores. Por isso, a relatora da proposta de Estatuto da Pessoa com Deficiência, ou "Lei Brasileira de Inclusão" (PL 7699/06), decidiu deixar claro no texto que é das prefeituras e não do proprietário do imóvel a responsabilidade pela manutenção das calçadas em boas condições de circulação.

Marcelo Camargo - Ag Brasil
Calçada defeituosa
Entre os problemas ressaltados pela arquiteta Ana Paula Borba está o material utilizado e a falta de uniformidade das calçadas.

De acordo com o parecer da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), o gestor público que não garantir a acessibilidade poderá até ser processado por improbidade administrativa. "A importância que a gestão pública dá para a calçada é muita pequena. Ela é a via pública do pedestre e o equipamento que une um serviço ao outro. Então, muitas vezes, a pessoa tem transporte, escola, supermercado e banco acessíveis, mas a calçada, não sendo (acessível), pode acabar inviabilizando o ir e vir de qualquer cidadão".

Mara Gabrilli cita levantamento do Hospital das Clínicas de São Paulo que constatou cerca de 2 mil casos anuais de quebra do maleólo, um dos ossos do tornozelo, devido a quedas em calçadas paulistas.

Ocupação comercial de calçadas
A Câmara também analisa a proposta (7968/14) que estabelece regras para a ocupação de calçadas por estabelecimentos comercias: eles deverão utilizar objetos removíveis e ocupar, no máximo, 30% do comprimento da calçada.

Outro projeto (5880/05) determina a colocação de piso tátil em torno de telefones públicos e de lixeiras instalados em calçadas, a fim de facilitar a circulação de cegos.

Especialista em mobilidade urbana da Universidade Federal de Goiás, a arquiteta Erika Kneib avalia que o País já dispõe de normas suficientes sobre o tema. O que falta, segundo ela, é fazer com que as cidades efetivamente priorizem o pedestre. "A calçada, muitas vezes, revela o nível de cidadania de uma cidade ou de uma aglomeração urbana, porque a calçada significa o respeito ao pedestre.”

A arquiteta acrescentou que é preciso começar a construir cidades para pessoas. “Um dos elementos fundamentais para isso, sem dúvida, é a calçada: a calçada com pavimento adequado, com o mobiliário urbano no lugar certo e com a largura que comporte a passagem do pedestre".

Essa ideia também está presente no livro "Meio Ambiente e Mobilidade Urbana", do economista e consultor legislativo da Câmara Eduardo Fernandez Silva. O livro analisa alternativas à queima de combustíveis fósseis nas cidades e defende uma organização urbana em que o acesso aos principais serviços - como escola, banco e lazer - pode ser feito a pé.

Reportagem - José Carlos Oliveira
Edição – Regina Céli Assumpção

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