Agropecuária

Deputados da oposição pedem criação de CPI da Carne Fraca

23/03/2017 - 17:01  

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Dep. Carlos Zarattini (PT - SP) concede entrevista
Zarattini: a denúncia gerou impacto econômico imediato, praticamente parou a exportação de carne no Brasil e isso é um desastre econômico

Com o apoio de 208 parlamentares, os deputados Carlos Zarattini (PT-SP), Ivan Valente (Psol-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG) protocolaram, na última quarta-feira (22), requerimento para a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar denúncias sobre a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal.

A CPI da Carne tem o objetivo de investigar a participação de agentes públicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no escândalo. Segundo os deputados, os envolvidos seriam funcionários do primeiro escalão do Poder Executivo Federal, que atuavam diretamente na proteção de grupos de empresários em detrimento do interesse público.

Impacto econômico
Para Zarattini, a denúncia gerou impacto econômico imediato e tirou o prestígio do setor de carnes brasileiro no cenário mundial. “Tanto que as exportações foram reduzidas em mil vezes de um dia para o outro. De R$ 74 milhões para R$ 74 mil. Ou seja, praticamente parou a exportação de carne no Brasil e isso é um desastre econômico”, avaliou.

Os parlamentares ressaltam, ainda, que a Polícia Federal identificou que as empresas investigadas teriam destinado dinheiro para campanhas políticas de partidos como PMDB e PP. As legendas negam essa denúncia.

Gilmar Felix / Câmara dos Deputados
Dep. Ivan Valente (PSOL-SP) concede entrevista
Ivan Valente: o Parlamento não deve ficar de fora do tema, pois tem que esclarecer essa questão como forma de serviço à opinião pública

“A Câmara vai participar de forma isenta. Como teve envolvimento de agentes públicos, de fiscais, a gente precisa fazer essa investigação de forma séria, rápida e responsável”, justifica o deputado Júlio Delgado.

Ainda de acordo com o parlamentar mineiro, a CPI pode recuperar a credibilidade da carne brasileira no mercado internacional, além de desmitificar a ideia de que toda a carne brasileira é de má qualidade. “Não pode haver generalização. A gente sabe que tem muitos pequenos e médios produtores que trabalham com muita dificuldade e geram empregos. Eles dependem dessa renda”, explicou.

Já para o deputado Ivan Valente, o Parlamento não deve ficar de fora do tema, pois tem que esclarecer essa questão como forma de serviço à opinião pública. “O Parlamento brasileiro precisa entrar nessa questão, pois teve um grande impacto para a saúde pública. Além disso, tem que investigar a corrupção nesse setor e, também, os impactos econômicos monstruosos que foram criados com o processo”, assinalou.

Contrapontos
Alguns parlamentares criticam a criação da CPI e condenam as justificativas. Integrante da Frente Parlamentar Mista da Agropecuária, o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) questiona a participação do Parlamento. “Pra que serve essa CPI? O que o Congresso pode fazer, além de levar para os holofotes pessoas que vão falar coisas que não conhecem?”, criticou.

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
Audiência pública para debater sobre o PL 4850/16, que estabelece Medidas Contra a Corrupção. Dep. Valdir Colatto (PMDB-SC)
Colatto: se tiver corrupção, a Polícia Federal e a Justiça têm que resolver. Se tiver problema de qualidade ou sanidade na carne, o Ministério da Agricultura ou o Saúde têm que resolver

O deputado catarinense discorda de Ivan Valente também em relação ao serviço prestado à população. “Será um desserviço que vai prejudicar o Brasil numa discussão interminável. Então eu acho que vai piorar a imagem do Brasil lá fora, pois muita gente vai falar bobagem”, avaliou.

Na opinião de Colatto, “se tiver caso de corrupção, a Polícia Federal e a Justiça têm que resolver. Se tiver problema de qualidade ou sanidade na carne, o Ministério da Agricultura ou o Ministério da Saúde têm que resolver”. Dessa forma, segundo o deputado, “quem tem que falar sobre esse assunto é o ministro da Agricultura, o secretário da Defesa Agropecuária e os técnicos especializados”.

Tramitação
O pedido da CPI da será analisado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Ele decidirá sobre a admissibilidade da comissão, se a investigação tem fato determinado e prazo certo. 

Reportagem - Igor Caíque
Edição – Regina Céli Assumpção

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