Política e Administração Pública

Ex-gerente de refinaria nega propina; CPI da Petrobras quer ouvir delator

Em depoimento nesta terça-feira na Câmara dos Deputados, Glauco Legatti afirmou que não recebeu dinheiro de empreiteira por causa das obras da refinaria Abreu e Lima e que não houve superfaturamento

31/03/2015 - 18:05  

Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Audiência pública para ouvir o depoimento do ex-gerente de Implementação de Empreendimentos para a Refinaria Abreu e Lima (Renest), Glauco Colepicolo Legatti
Glauco Legatti afirmou que o engenheiro da Galvão Engenharia que o acusou de receber R$ 400 mil deve ter tentado acobertar suas próprias ações

Em sete horas de depoimento na Câmara dos Deputados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, nesta terça-feira (31), o ex-gerente geral da refinaria Abreu e Lima, Glauco Legatti, negou ter recebido propina da construtora Galvão Engenharia, defendeu os procedimentos internos da Petrobras e irritou deputados ao negar superfaturamento nas obras da companhia.

Legatti foi acusado por um dos delatores da Operação Lava Jato, o engenheiro Shinko Nakandakari, de ter recebido R$ 400 mil em propina, mesmo depois de deflagrada a Operação Lava Jato, em 2014. O dinheiro teria sido entregue pessoalmente a ele pelo próprio Nakandakari, em hotéis em São Paulo.

“O depoimento dele evidencia que alguém está mentindo nessa história”, destacou o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ). O deputado disse ser necessário que a CPI ouça o depoimento de Nakandakari.

O ex-gerente repetiu o que havia sido dito pelos ex-presidentes da Petrobras Sérgio Gabrielli e Graça Foster, para quem a corrupção nos contratos da empresa era praticada fora da empresa. “Nunca ouvi falar de cartel de empresas e nenhuma auditoria interna havia identificado essa situação”, afirmou.

A refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, começou a operar no final do ano passado depois de ter consumido 18 bilhões de dólares em sua construção. O orçamento inicial era de 2,4 bilhões de dólares. Na semana passada, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster admitiu que foi um erro a divulgação desse dado e que uma estimativa mais realista de custos seria de cerca de 14 bilhões de dólares. Ela atribuiu o aumento do custo a sucessivas mudanças no projeto original.

Outro delator da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef, declarou em depoimentos que a construção da refinaria rendeu pagamento de propina para partidos políticos, como o PP, o PSB e o PSDB, que negam a acusação.

Custo da terraplanagem
Shinko Nakandakari, delator que acusa Legatti de ter recebido propinas, disse em depoimento à Justiça Federal que atuava em nome da empreiteira Galvão Engenharia. A Galvão trabalhou na terraplanagem da refinaria Abreu e Lima, fase da obra que teve superfaturamento, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). “Eu não tinha por que receber propina da Galvão”, disse o ex-gerente.

Ele explicou que a Galvão teve dois contratos, um de R$ 498 milhões para a instalação de redes elétricas e de água e esgoto, e outro de R$ 169 milhões para asfaltamento e arruamento do complexo. “Nego ter recebido qualquer centavo.”

Legatti afirmou que não entrou com ação contra Nakandakari por orientação de seus advogados, mas que se ofereceu para esclarecer isso pessoalmente ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal.

Ao responder pergunta do deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), ele admitiu participar de uma acareação com Nakandakari e disse acreditar que o engenheiro envolveu seu nome no pagamento de propina para justificar a alguém o uso dos R$ 400 mil. “Deve ter sido uma espécie de prestação de contas. Ele deve ter embolsado o dinheiro e por isso usou meu nome para justificar isso a quem o pagou”, ressaltou.

Reportagem – Antonio Vital
Edição – Marcos Rossi

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