Política e Administração Pública

Recuperação judicial de frigorífico pegou mercado de surpresa, afirma diretor do BNDES

Em audiência na Câmara dos Deputados, dirigente ressaltou que, quando comprou parte do Frigorífico Independência, o banco federal tinha indicadores positivos para fazer o investimento.

15/07/2014 - 18:18  

Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados
Reunião para prestar esclarecimentos sobre os termos da aquisição, pelo BNDES, de participação no Frigorífico Independência, apenas três meses antes da empresa ingressar com pedido de recuperação judicial, e suas consequências para a instituição de fomento estatal. Diretor do Banco Nacional de Desenvovimento Econômico Social - BNDES, Júlio César M. Raimundo
Ramundo lembrou que o frigorífico recebeu R$ 300 milhões de bancos internacionais após o investimento do BNDESPar.

O diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Julio Cesar Ramundo afirmou nesta terça-feira (15), na Câmara dos Deputados, que o pedido de recuperação judicial do Frigorífico Independência três meses depois de o banco federal pagar R$ 250 milhões por 21,8% em participações acionárias foi “inusitada”.

Segundo ele, a decisão pegou todo o mercado de surpresa. “A empresa tinha auditoria, tinha balanços publicados sem ressalva no ano de 2007 e foram esses os elementos que o BNDES utilizou para tomar a sua decisão de investimento”, disse Ramundo, que administra as áreas industrial, de capital empreendedor e mercado de capitais do banco.

O diretor lembrou que o frigorífico conseguiu outros R$ 300 milhões em linhas de crédito por bancos internacionais operando no Brasil, após o investimento da BNDESPar, subsidiária do banco para atuações acionárias. “Certamente nenhum agente bancário, financeiro, procederia a aprovação de um crédito dessa monta se tivesse conhecimento de problemas da magnitude que se apresentaram depois.”

Os esclarecimentos foram feitos durante audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados. Nenhum dos dois autores do requerimento, deputados do DEM Onyx Lorenzoni (RS) e Ronaldo Caiado (GO), vieram para o debate. O deputado Lira Maia (DEM-PA) justificou a ausência pela dificuldade dos parlamentares em viajarem a Brasília.

Informações erradas
Para o deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR), chama atenção a contabilidade que não exprimia com clareza a situação do frigorífico. “A instituição se baseou em informações erradas.” O parlamentar falou, porém, que o banco reconheceu o erro cometido e deve buscar novos meios para avaliar futuras aquisições.

Maia criticou a atitude do BNDES de priorizar a empresa em relação a outras de menor porte que não receberam recursos do banco. “Há uma facilitação a empresas que estão nas vésperas de pedir concordata para obter, com facilidade e em tão pouco tempo, recursos do BNDES. Houve um erro técnico de análise.”

Entenda o caso
Em novembro de 2008, o BNDES adquiriu, por R$ 250 milhões, participação no Frigorífico Independência, no Mato Grosso do Sul, correspondente a 21,8% da composição acionária da empresa. À época da operação, as dívidas do Independência com credores já chegavam a R$ 4 bilhões.

Em fevereiro de 2009, a empresa ingressou com pedido de recuperação judicial. A compra pelo BNDES previa outros R$ 200 milhões em investimentos, elevando a participação acionária do banco a 33%. A ação foi interrompida depois do anúncio de concordata.

Na tentativa de recuperar o dinheiro investido na empresa, o BNDES recorreu à Câmara Arbitral do Mercado de Capitais da Bovespa, tentando obrigar os controladores do Independência a fazer uma recompra das ações do frigorífico em poder do banco, mas foi derrotado na ação. O deputado Bohn Gass (PT-RS) afirmou que a decisão ainda é liminar e o BNDES tomou as ações necessárias para tentar reaver parte dos recursos.

Em janeiro de 2013, a JBS, dona do grupo Friboi e maior processadora de proteína animal do mundo, comprou os ativos do Frigorífico Independência. Em novembro de 2012, a maioria dos credores do frigorífico tinha aprovado a operação.

Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Marcos Rossi

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