Política e Administração Pública

Relator quer aprovar orçamento impositivo sem regras de financiamento da saúde

Edio Lopes diz que vai conversar com Ricardo Berzoini na semana que vem para encontrar uma saída para o pagamento obrigatório de emendas dos parlamentares. Bancada da saúde não aceita normas de financiamento do setor.

03/04/2014 - 16:16  

Leonardo Prado
Edio Lopes
Edio Lopes: "Não vejo outra saída que não seja o fatiamento da proposta".

O relator da comissão especial do orçamento impositivo, deputado Edio Lopes (PMDB-RR), disse que a proposta só terá chance de aprovação se a Câmara deixar para depois a discussão dos percentuais de financiamento da saúde. Ele quer aprovar ainda neste mês um texto que trate apenas da obrigatoriedade da execução das emendas dos parlamentares e da vinculação de 50% delas para a saúde. A ideia será discutida na semana que vem com o novo ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Ricardo Berzoini.

Na prática, Lopes pretende respeitar o fatiamento feito pela bancada da saúde na proposta de orçamento impositivo que veio do Senado (PEC 353/13) e aprovar apenas uma delas. O texto dos senadores foi transformado em duas propostas: a PEC 358/13, que obriga o governo federal a pagar as emendas dos parlamentares até o limite de 1,2% da Receita Corrente Líquida (RCL) e vincula metade delas à saúde; e a PEC 359/13, que redefine os percentuais mínimos de receita de União a serem aplicados em saúde. As duas tramitam em conjunto e o acordo original feito com o governo no ano passado era de que seriam unidas novamente pela comissão especial.

Edio Lopes, no entanto, afirmou que o Senado fez uma alteração “muito profunda” ao incluir na PEC os limites para saúde e que a falta de consenso nesse ponto estaria impedindo o avanço nas negociações sobre o orçamento impositivo. A inclusão foi feita pelos senadores a pedido do Executivo.

“Hoje não vejo outra saída senão adotarmos esse critério [o fatiamento]. A minha proposta ao ministro será de que aprovemos ainda na semana que vem na comissão o texto da primeira parte da PEC – aquele que saiu da Câmara acrescido da obrigatoriedade de 50% para a saúde –, deixando para depois uma discussão mais ampla da segunda parte, que é o financiamento da saúde”, explicou.

Financiamento da saúde
Integrante da bancada da saúde e um dos defensores do fatiamento da PEC, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) comentou que os percentuais estabelecidos para o financiamento da saúde pela PEC do Senado são insuficientes. Ele criticou especificamente o fato de as emendas parlamentares serem incluídas no cálculo do investimento mínimo na saúde, o que desobriga o governo federal de ampliar os gastos no setor. Ele quer que as emendas sejam investimentos a mais.

“Os deputados da saúde estão se mobilizando e mostrando para todos os líderes que, se passar essa célula maligna que o governo colocou nessa emenda impositiva, vai ser muito ruim para toda a população. Queremos mais dinheiro para a saúde”, declarou Perondi.

Inadimplentes
A comissão também corre contra o tempo para aprovar o orçamento impositivo até o final de abril porque a proposta vai permitir que municípios inadimplentes possam receber livremente os recursos das emendas impositivas, o que atualmente não ocorre.

Embora a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2014 (LDO - Lei 12.919/13) tenha obrigado o pagamento das emendas individuais, várias regras têm impedido os gastos. Uma delas, segundo Lopes, é a de que o município só vai receber as emendas que o beneficiem se apresentar até o final de abril os requisitos de regularidade fiscal exigidos pelo Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias (CAUC).

Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados
Deputado Danilo Forte (PMDB-CE)
Danilo Forte criticou corte do governo a emendas fora do orçamento impositivo.

A exigência, segundo Lopes, vai inviabilizar o pagamento das emendas. “70% dos municípios estão inadimplentes. Mantida essa regra, isso vai significar que, no dia 28 de abril, 70% das nossas emendas irão para o vinagre”, reclamou o deputado.

Regras da SRI
O deputado Danilo Forte (PMDB-CE) também criticou as regras da Secretaria de Relações Institucionais para as emendas impositivas incluídas na Lei de Diretrizes Orçamentárias e o corte nas emendas individuais que ficaram fora da regra. Segundo ele, isso frustrou os parlamentares e contaminou o debate da PEC do orçamento impositivo. Forte foi relator da LDO que previu a execução obrigatória das emendas.

“Há uma surpresa dos parlamentares com relação à forma como foi encarado pelo Executivo o orçamento impositivo. O corte e a questão das portarias ministeriais para colocar imposições sobre as emendas colocaram uma suspeição sobre o princípio da própria impositividade das emendas. Estão desconsiderando que o orçamento impositivo está em uma lei; uma portaria da SRI não pode estar acima disso”, contestou.

Reportagem – Carol Siqueira
Edição – Marcelo Oliveira

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