Depoimento de Lamas frustra CPMI da Compra de Votos

16/08/2005 - 23:51  

O depoimento do ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Compra de Votos foi marcado por evasivas, lamentou o relator da comissão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG). Essa também foi a opinião de integrantes da CPMI, que não conseguiram de Lamas informações sobre o destino do dinheiro transportado por ele para o PL, que foi sacado de contas no Banco Rural em Brasília ou retirado diretamente da empresa SMPB Comunicação, em Belo Horizonte (MG).
Jacinto Lamas limitou-se a repetir que agiu a pedido do presidente do partido, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), e que em nenhum momento conferiu as quantias que transportava. "Tudo o que recebi repassei diretamente para o presidente Valdemar Costa Neto", disse o ex-tesoureiro, que afirmou desconhecer esquema de distribuição de mesada para parlamentares da base aliada.

Dinheiro ilícito
O deputado Luiz Antonio Fleury (PTB-SP) perguntou a Lamas se ele sabia que o dinheiro que buscava em hotéis e no Banco Rural, sem assinar recibo, era ilícito. O ex-tesoureiro respondeu que partia do princípio que era obrigação do PT lançar os recursos doados. Segundo Lamas, o então presidente do PL, Valdemar Costa Neto, explicou na ocasião que se tratava de um compromisso firmado entre o PL e o PT para saldar despesas da campanha de 2002, quando os dois partidos se coligaram. Porém, o depoente não soube explicar se o dinheiro foi realmente usado para esse fim.
O presidente da CPMI, senador Amir Lando (PMDB-RO), chegou a pedir a Lamas que procurasse dizer a verdade, pois não estava convencendo ninguém com seu depoimento. "Conduzir recursos sem saber quanto é difícil de acreditar", disse Lando.

Paraísos fiscais
Jacinto Lamas confirmou apenas que esteve oito vezes na agência do Banco Rural em Brasília, e que também recebeu dinheiro em dois hotéis da cidade. Da SMPB ele trouxe envelopes contendo cheques, todos nominais à empresa Garanhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações Ltda. Essa empresa é suspeita de ser o braço de uma conexão entre o Banco Rural e o empresário Marcos Valério para remessas de valores a paraísos fiscais.
Questionado sobre a origem e o uso dos recursos - que segundo a lista apresentada por Marcos Valério pode chegar a R$ 10,8 milhões -, Lamas salientou que não sabia nada a respeito. Mas admitiu que o PL não enfrentava problemas financeiros à época em que o dinheiro começou a ser entregue (fevereiro de 2003).
Sobre seu próprio patrimônio, o depoente confirmou ter acumulado R$ 1 milhão.

Contatos
Lamas afirmou também que os saques eram feitos por ele depois que o então tesoureiro do PT Delúbio Soares entrava em contato com o presidente do PL. Nesses telefonemas, Delúbio sempre informava onde a quantia seria recebida. Lamas disse que também viu o presidente do PL telefonar para Delúbio, em diversas ocasiões, para cobrar o envio dos recursos acertados.
No depoimento, o ex-tesoureiro do PL confirmou ainda que Valdemar Costa Neto usou dinheiro de uma conta bancária do partido para mobiliar sua residência em Brasília. Essa denúncia foi apresentada pela ex-mulher de Valdemar, Maria Christina Caldeira, em depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.

Inquérito e ameaças
O senador José Jorge (PFL-PE) sugeriu à CPMI que encaminhe à Câmara pedido de abertura de inquérito administrativo contra Jacinto Lamas. Ele é funcionário da Casa há 29 anos e, segundo o senador, não poderia ter participado de transações relativas a caixa dois de campanha eleitoral.
Antes de iniciar seu testemunho à CPMI, o ex-tesoureiro do PL revelou ter sofrido ameaças telefônicas logo após o seu depoimento à Polícia Federal. Algumas das mensagens teriam ficado gravadas em seu telefone celular. Bastante emocionado, ele disse que, se receber novas ameaças, poderá pedir proteção policial. A sugestão, inclusive, foi dada pelo presidente da CPMI, senador Amir Lando.

Novo depoimento
O depoimento do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, marcado para esta quarta-feira, foi adiado para quinta-feira (18), às 9 horas. O adiamento foi pedido pelo próprio Delúbio, que estava depondo no conselho de ética do PT, em São Paulo. Em ofício à CPMI da Compra de Votos, ele ponderou que não haveria tempo hábil para tomar um avião para Brasília até a manhã desta quarta.

Confira os depoimentos prestados até agora

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Reportagem - Janary Júnior e Sandra Crespo
Edição - Regina Céli Assumpção

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