Política e Administração Pública

Ex-diretor nega influência política em investimentos de fundo de pensão dos Correios

Depoimento foi criticado por deputados, que apontaram necessidade de maiores investigações sobre o Postalis

03/11/2015 - 20:52  

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
Audiência pública para tomada de depoimento do ex-diretor Financeiro do Instituto de Seguridade Social dos Correios e Telégrafos (POSTALIS), Adilson Florêncio Da Costa. Presidente da CPI, dep. Efraim Filho (DEM-PB)
O presidente da CPI, deputado Efraim Filho (ao centro), questionou quais foram os critérios usados na aplicação de recursos do Postalis 

O ex-diretor financeiro do Instituto de Seguridade Social dos Correios e Telégrafos (Postalis) Adilson Florêncio da Costa afirmou, nesta terça-feira (3), que todos os investimentos do fundo foram técnicos, e negou interferência política nas decisões sobre o uso dos recursos do Postalis. Ele depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Fundos de Pensão.

Um dos investimentos do Postalis questionado pelos parlamentares diz respeito ao Grupo Galileo Educacional. Costa era diretor do fundo quando o Postalis investiu, em 2011, R$ 81,4 milhões por meio de debêntures no grupo, criado para assumir o controle da Universidade Gama Filho.

A instituição foi descredenciada em janeiro de 2014 pelo Ministério da Educação. Menos de dois anos depois da operação, Costa chegou a integrar a diretoria do Grupo Galileo Educacional. De acordo com a revista Istoé, um inquérito da Polícia Federal aponta que a operação foi feita sem nenhum critério técnico, pois se tratava de uma decisão temerária.

“Foi um investimento feito pelo Postalis que seguiu todos os procedimentos da política de investimentos, como análise técnica, análise de crédito e a devida avaliação jurídica da operação”, afirmou Adilson Costa. Ele explicou que a operação foi proposta pelo Banco Mercantil, conduzido pelo presidente do Grupo Galileo, Márcio André, e afirmou que já havia o interesse do fundo de investimento na área de educação.

“Antes do descredenciamento, a Gama Filho cumpriu todas as suas obrigações, como pagamento de juros e amortizações, e foram resgatados R$ 45 milhões. Quanto aos outros R$ 35 milhões, acredito que deva existir um processo judicial”, afirmou Costa.

O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) afirmou que vários outros investimentos do Postalis foram equivocados, como no Banco Santos, BDA, Canabrava e Fidex, além do próprio grupo Galileo. Costa reiterou que os investimentos foram técnicos e que não houve influência política nas decisões dos gestores.

Mais controle
Segundo o depoente Adilson Costa, nos últimos 15 anos houve um controle maior dos fundos de pensão, devido a uma legislação mais rigorosa. Ele afirmou que as decisões sobre o uso dos recursos do fundo são tomadas de forma colegiada, e não isoladamente.

O ex-diretor disse que considera ter feito uma boa gestão à frente do fundo: “Com todas as dificuldades, fizemos tudo o que foi possível.” Ele confirmou que responde a 24 autos de infração na Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), mas que isso não significa ser um mau gestor. “Boa parte desses processos não dizem respeito a investimentos”, argumentou.

Ele confirmou que há um déficit acumulado do Postalis de aproximadamente R$ 5,6 bilhões, não necessariamente originário do setor de investimentos. “Sobre o déficit, há um problema estrutural grave que vem de muitos anos. Parte é da estrutura do plano, que precisa ser corrigida”, explicou. Adilson Florêncio Costa acredita que parte dos investimentos feitos pelo Postalis vai ser recuperada.

Ao afirmar não se lembrar de prejuízos de sua gestão ao fundo, Costa foi criticado pelo relator da CPI, deputado Sergio Souza (PMDB-PR). “O senhor se lembra de informações de 1986 e não de fatos de quatro anos atrás?” questionou o parlamentar. Costa confirmou que sua esposa foi sócia de uma empresa, de cujo nome também alegou não se recordar.

Previc

O ex-dirigente do Postalis criticou a atuação da Previc, autarquia do Ministério da Previdência Social responsável por fiscalizar os fundos de pensão: “Contestamos as autuações, mas fomos penalizados. Isso é estranho. Pedimos uma avaliação para saber se houve prejuízos para o Postalis, e a Previc se recusou a oferecê-la.” Ele afirmou que o Previc trata o Postalis e outras fundações de forma diferente.

Mansão
O ex-diretor confirmou ter comprado um imóvel no valor de R$ 1,1 milhão no Lago Sul, área nobre de Brasília, do ex-presidente do Postalis, Alexei Predtechensky, que disse ser seu amigo. “Foi dentro dos valores de mercado”, argumentou. Ele afirmou que não se recorda da forma como foi feito o pagamento, se em cheque ou em depósito bancário.

O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), rebateu o depoente e disse que o valor de um imóvel na região é de cerca de R$ 8 milhões. “É um caso a ser investigado”, cobrou Bueno.

O presidente da CPI, deputado Efraim Filho (DEM-PB), afirmou que os mais prejudicados pelos investimentos foram os trabalhadores, aposentados e pensionistas que contribuíram com os fundos de pensão.

“Nós estamos nos aprofundando nas fases investigativas. O Adilson Florêncio veio tentar explicar decisões do passado que representam o cerne da investigação desta CPI, que é a tomada de decisão: que fundamentos aconteceram para que essa tomada ocorresse de forma pouco criteriosa, gerando prejuízos de bilhões de reais?” questionou Efraim Filho.

Reportagem – Luiz Gustavo Xavier
Edição – João Pitella Junior

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.