Policial confirma doação de verba pela CIA

13/04/2004 - 18:16  

O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Francisco Carlos Garisto, confirmou hoje na Comissão de Segurança Pública que há muito tempo tomou conhecimento de que a Polícia Federal brasileira recebe dinheiro do departamento de combate a entorpecentes norte-americano (DEA) e da agência de inteligência (CIA). "Isso compromete a autonomia da Polícia Federal e os policiais são revoltados com essa situação há muito anos", afirmou.
Ele declarou ainda que essas informações já foram reveladas em 1999 por parlamentares e pela Imprensa, porém, não houve qualquer conseqüência. "Essa notícia aparece, causa comoção, mas depois de dez dias ninguém fala sobre isso", disse. Para o representante dos policiais, o assunto é abafado propositalmente. "É o poder dos Estados Unidos ou é o poder de alguém que está fazendo coisa errada e que não quer ser descoberto", afirma.
Garisto declarou ainda que o convênio foi implementado quando Romeu Tuma, hoje senador, estava à frente da Polícia Federal.
No mês passado, a revista Carta Capital publicou reportagem com o ex-chefe do FBI no Brasil Carlos Costa, na qual ele afirma que "os Estados Unidos compraram a Polícia Federal". Segundo o ex-chefe do FBI, há anos os Estados Unidos doam milhões de dólares para a polícia brasileira. Em razão do dinheiro recebido, Costa acusa a Polícia Federal de ser subserviente a instituições governamentais norte-americanas.

Monitoramento pelos EUA
O presidente da Fenapef também confirmou que os recursos doados pelo governo americano à Polícia Federal são monitorados pelos agentes dos Estados Unidos de acordo com os interesses daquele país. "As verbas são liberadas de acordo com a necessidade dos organismos americanos", afirmou. Ele estima que os recursos vindos do DEA estejam em torno de US$ 5 milhões anuais; já as verbas doadas pela CIA dependem do trabalho que venha a ser realizado no país.
Garisto lembrou que, na época da ação da Polícia Federal no Polígono da Maconha, em Pernambuco, os Estados Unidos não autorizaram a liberação dos recursos. Os americanos alegavam que a maconha produzida no Estado não seria enviada aos Estados Unidos. "O dinheiro só é utilizado para combater o tráfico de drogas que vão ser comercializadas nos Estados Unidos", afirmou.

Legalização da verba
Na reunião, ele defendeu que o repasse das doações dos organismos americanos à Polícia Federal para combater o narcotráfico seja legalizado por meio de acordo internacional entre os países, e não por convênio entre as polícias dos Estados Unidos e do Brasil. Em sua opinião, o Tribunal de Contas da União deveria analisar a prestação de contas das verbas do acordo das doações. Ele denuncia que os recursos são repassados aos próprios agentes que vão realizar os trabalhos para os organismos americanos, e a prestação de contas é apresentada diretamente aos Estados Unidos. "O Tribunal de Contas é a embaixada americana", afirma.

Reportagem – Daniel Cruz
Edição - Patricia Roedel

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