Deputados querem que Petrobras reative produção no polo naval de Charqueadas

Comissão de Trabalho da Câmara visitou sede da empresa Iesa, que demitiu 1,3 mil trabalhadores no ano passado após rompimento de contrato pela Petrobras. Danos à economia local são similares a outras cidades onde a estatal paralisou obras.
07/07/2015 13h41

Pierre Triboli

Deputados querem que Petrobras reative produção no polo naval de Charqueadas

Módulos de petróleo inacabados estão no pátio da Iesa

Uma comitiva da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados foi ao município de Charqueadas (RS) para investigar os efeitos do fechamento da empresa Iesa, que fabricava módulos de plataformas de petróleo para a Petrobras. A estatal rompeu o contrato com a Iesa no fim do ano passado, em meio a denúncias relacionadas à Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

O fim do contrato resultou na demissão de 1,3 mil trabalhadores da Iesa. Além disso, a empresa deixou de pagar fornecedores e prestadoras de serviço, o que prejudicou toda a economia do município, que é a base do polo naval do Jacuí.

Liderada pelo presidente da comissão, deputado Benjamin Maranhão (SD-PB), a comitiva visitou na última sexta-feira (3) a fábrica da Iesa, que hoje possui apenas 30 funcionários que atuam na fiscalização do patrimônio restante. No pátio da empresa, há módulos de plataforma de petróleo incompletos que deveriam ter sido destinados à Petrobras, mas que não ficaram prontos devido ao fim do contrato. Esse material poderá virar sucata caso a estatal não decida pela retomada da fabricação.

A Petrobras rompeu o contrato com a Iesa no ano passado por causa do aumento de custos do projeto de construção dos módulos. A estatal, no entanto, já gastou cerca de R$ 260 milhões com os equipamentos que hoje estão abandonados. Já a Iesa investiu R$ 80 milhões na fábrica.

O novo plano de negócios anunciado recentemente pela estatal prevê corte de 37% dos investimentos. Essa contenção de gastos causa um temor de que o projeto dos módulos, se retomado, seja levado para a China, juntamente com os empregos e investimentos antes destinados a Charqueadas.

Efeito dominó
O fechamento da Iesa criou um efeito dominó, prejudicando as empresas fornecedoras. É o caso da Metasa, também localizada no polo naval em Charqueadas, que produziu equipamentos contratados pela Iesa. “A Metasa tem equipamentos que foram avaliados em R$ 40 milhões sem ter a quem entregar. Enquanto isso, a Petrobras fez essa mesma contratação desses equipamentos na China. É preciso esclarecer isso", disse Benjamin Maranhão.

Logo após visitarem a Iesa, os deputados foram recebidos na Metasa. Ao contrário da Iesa, que pediu recuperação judicial, a Metasa continua suas atividades e sua permanência é considerada prioridade pela cidade de Charqueadas. Para isso, a Metasa busca expandir a sua base de clientes.

Audiência pública
A Comissão de Trabalho também promoveu em Charqueadas audiência pública para debater a situação do polo naval. No evento, prefeitos da região, sindicalistas e empresários locais relataram preocupação com o fechamento da empresa.

O prefeito de Charqueadas, Davi Gilmar, quer garantir que, pelo menos, a estatal contrate outra empresa para ocupar o lugar da Iesa. “É uma região de mais de 200 mil habitantes que trabalhou, se envolveu em cima do polo naval do Jacuí e que, hoje, se encontra frustrada", afirmou.

O deputado Marcon (PT-RS), que integrou a comitiva, ressaltou que houve uma vitória quando a Petrobras decidiu voltar a investir em plataformas de petróleo na cidade de Rio Grande (RS). Ele espera que a mobilização da comunidade em Charqueadas resulte no retorno de postos de trabalho para o município.

"Deram um calote nos empresários daqui. Isso não se faz. Aqui é gente séria. O povo que mora aqui é sério e trabalhador", disse o parlamentar.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Charqueadas, Nairo Delfin, afirmou que a Iesa inicialmente gerou enorme expectativa, mas depois provocou um grande desânimo na população do município. “Fornecíamos para a Iesa e ela deixou de pagar muitos colegas empresários, que ficaram com dívidas. Até hoje estamos passando por esse problema”, declarou.

Ele disse que o prejuízo também atingiu empresários de outros setores que investiram no município, como no setor imobiliário.

Explicações da Petrobras
Os deputados apontaram que, mais grave do que os efeitos da crise, foi a falta de planejamento da Petrobras. O deputado Luiz Carlos Busato (PTB-RS), que participou das visitas e da audiência pública em Charqueadas, quer ouvir explicações da estatal.

“Infelizmente, há decisões tomadas pela Petrobras com objetivo de solução mais barata. É isso que nos incomoda. Não podemos admitir que uma empresa brasileira tome uma decisão de levar para a China investimentos, empregos, desenvolvimento, em detrimento de uma região do Brasil e, o que é pior, deixando investimentos já realizados aqui”, disse Busato.

"Não é só aqui no Rio Grande do Sul, em Pernambuco é a mesma coisa, na Bahia é a mesma coisa, a Petrobras tem que ter responsabilidade", afirmou.

Os deputados anunciaram que vão apresentar um requerimento para visitar a Petrobras e cobrar explicações da empresa. Se for o caso, também vão tentar reuniões no Ministério de Minas e Energia.

Agência Câmara Notícias