Câncer de Intestino: Especialistas discordam de Ministério da Saúde sobre investimento no rastreio

Audiência presidida por deputadas focou em desafios para o tratamento e diagnóstico do tipo de doença
17/09/2015 15h25

Ascom/ Gabiente deputada Dulce Miranda

Câncer de Intestino: Especialistas discordam de Ministério da Saúde sobre investimento no rastreio

Prevenção e rastreio. Estas foram as duas palavras predominantes na audiência pública desta quinta-feira (17) ao elencar os desafios do tratamento do câncer de intestino no Sistema Único de Saúde (SUS). A questão, contanto, motivou divergências entre os convidados. Especialistas acreditam que exames como sangue oculto são baratos para o SUS e sua aplicação à população geral possibilita chegar a um diagnóstico precoce. O Ministério da Saúde (MS), contudo, acredita que tal afirmação segue um “falso conceito de tempo ganho” e que, na prática, rastreamentos massivos podem ter consequências mais indesejáveis que desejáveis. A audiência pública foi presidida pelas deputadas Carmen Zanotto (PPS/SC) e Raquel Muniz (PSC-MG).

De acordo com a diretora-substituta do Departamento de Atenção Hospitalar e de Emergência do MS, Inez Gadelha, o excesso de programas de rastreamento pode causar a medicalização desnecessária dos pacientes com doenças sem risco de morte diante de testes com resultados falsos-positivos – ou erros do exame em que apontam doença em um paciente saudável. Isso pode levar a ansiedade e procedimentos desnecessários. “O SUS segue premissas básicas para o investimento. O procedimento funciona? O quão bem? A que custo e para quantos, já que o nosso sistema é universal. E, para cada programa, R$ 1 se torna R$ 1 milhão”, afirmou a representante. Gadelha crê que o investimento em rastreio não necessariamente diminui o índice de mortalidade. Os outros convidados discordaram.

Uma das que refutaram a conclusão do MS foi a presidente da Associação Brasileira de Prevenção ao Câncer de Intestino, Agelita Habr-Gama. “Os testes deviam ser feitos todos os anos, apesar de grande incidência de falsos negativos”, afirmou a presidente. Segundo Habr-Gama, o câncer de intestino tem progressão de 10 anos até a sua forma maligna. Com isso, a possibilidade do diagnóstico não ser solucionado com rastreios periódicos é menor, pois diminui a possibilidade de equívocos. A tese também foi reforçada pela presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz.

 

Biomarcadores

Para o diretor do departamento de oncologia clínica do Hospital Camargo Cancer Center, Marcelo Fanelli, é necessário o investimento de pesquisas com biomarcadores para dar “o remédio certo para as pessoas certas” e, assim, aumentar a sobrevida dos pacientes. Os biomarcadores são indicadores do estado fisiológico e de alterações que ocorrem durante o processo neoplásico, o que permite um maior conhecimento da doença de cada indivíduo. “O tratamento é caro, os impactos nos custos do SUS é grande, então precisamos buscar a identificação certa”, disse.

O câncer de intestino atinge em maior incidência os homens – mais de 15 mil casos em 2014 – e habitantes de aglomerados urbanos, de acordo com informações do MS. De acordo com Gadelha, o tipo incide principalmente por maus hábitos que urbanização acarreta. “Enquanto o câncer de estômago cai com melhoria nas condições socioeconômicas, principalmente com a conservação de alimentos, o câncer de intestino sobe”, disse a representante do MS. Tal câncer é o quarto com maior incidência no Brasil e é tema da campanha Setembro Verde, realizado por associações de saúde, que visa a conscientização no combate da doença.