Impasses de acordo comercial com Europa dominam debates em fórum internacional

Entraves para um acordo comercial entre os países do Mercosul e os países europeus estão nos problemas apresentados pela Argentina, que quer reduzir os impostos de importação.
17/03/2015 19h15

Gabriela Korossy /Câmara dos Deputados

Impasses de acordo comercial com Europa dominam debates em fórum internacional

As relações entre o Brasil e os 28 países da União Europeia foram o tema do 22º Fórum Brasil Europa, que reuniu diplomatas, especialistas, estudantes e parlamentares nesta terça-feira (17), na Câmara dos Deputados.

O encontro discutiu assuntos que já são abordados em diversas negociações bilaterais, como meio ambiente e troca de tecnologias, mas a maior preocupação foi mesmo com a economia. Em especial os impasses do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

Há mais de 15 anos, os dois blocos econômicos negociam a formação de uma área de livre comércio. Isso poderia aumentar as vendas entre o Brasil e os países europeus, que hoje gira em torno de 100 bilhões de dólares por ano. As negociações estão praticamente paradas há mais de um ano em função da crise internacional. Com um agravante: o governo argentino quer mais tempo para que os impostos de importação sejam reduzidos.

Amarrado
José Flávio Sombra Saraiva, diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, explica qual a consequência disso para o Brasil. "O Brasil está amarrado na parte comercial ao Mercosul, e o Mercosul impede, sobretudo o maior sócio e amigo do Brasil, chamado Argentina, que se amplie isso”, afirma.

Segundo ele, “os argentinos têm medo de um afogamento econômico, que é a entrada de produtos de maior valor agregado na Argentina. O Brasil já se preparou para isso três ou quatro vezes, já acertou com a União Europeia em nome do Mercosul e, no dia de assinar, os argentinos não assinam".

Prejuízos
O deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG) é o presidente do Grupo Parlamentar Brasil-União Europeia. Ele acha que o Brasil já tem prejuízos com a falta de um acordo que permita o aumento do comércio com a Europa.

"Os entraves que têm dentro do Mercosul são justamente em relação à Argentina. Tanto o Uruguai quanto o Paraguai estão aflitos por este acordo, mas a Argentina tem sido um entrave e essa questão não é explicitada claramente. Com isso, nós estamos ficando para trás", critica o parlamentar.

Protecionismo
Mas não é só a falta de entusiasmo da Argentina que dificulta o acordo, principalmente em tempos de crise econômica. Alguns setores, como a agrícola e o automobilístico, enfrentam muitas medidas protecionistas dos dois lados. Ano passado, por exemplo, a União Europeia denunciou o Brasil na Organização Mundial do Comércio por conta da desoneração do IPI de automóveis e eletrodomésticos.

E, enquanto os nós comerciais não se desatam, a relação entre o Brasil e a Europa avança em outras áreas, como nas telecomunicações, tecnologia e meio ambiente. Daí o otimismo da embaixadora Ana Paula Zacarias, chefe da delegação da União Europeia no Brasil.

"Entre a União Europeia e o Brasil não temos entraves. Neste momento o acordo União Europeia-Mercosul está um pouco no impasse. Precisamos encontrar uma solução que passa, talvez, pela continuidade das reuniões técnicas e também precisamos encontrar a vontade política de ambos os lados", explica a embaixadora.

Prioridade
A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e diz que uma das prioridades da comissão este ano será defender o acordo entre o Mercosul e a União Europeia.

"A maioria dos países do Mercosul está voltada para acelerar este processo. Decidimos que esta deverá ser uma pauta a ser tratada e agilizada pela Comissão de Relações Exteriores, porque não apenas interessa à União Europeia intensificar esse entendimento, mas interessa sobretudo ao Brasil, pela importância que tem esses acordos bilaterais", ressalta Jô Moraes.

O Fórum Brasil-Europa também discutiu o Marco Civil da Internet, aprovado pela Câmara no ano passado.

Reportagem – Antonio Vital
Edição – Newton Araújo
Agência Câmara de Notícias