Debatedores defendem educação para inserção de autistas no mercado de trabalho

Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência deve ter, no próximo ano, subcomissão dedicada à discussão de escola integral e acesso ao emprego para pessoas portadoras do transtorno
13/12/2016 15h50

Antonio Augusto / Câmara dos Deputados

Debatedores defendem educação para inserção de autistas no mercado de trabalho

A audiência também mostrou exemplos de pessoas com autismo que trabalham de acordo com suas especificidades

Em debate realizado na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (13), participantes chegaram à conclusão de que o Brasil precisa investir mais em educação voltada para as pessoas com autismo de todas as idades, a fim de que elas sejam incluídas no mercado de trabalho.

Parlamentares e representantes de movimentos de defesa dos autistas afirmaram que hoje os adultos portadores do transtorno sofrem com a negligência do Estado.

Para discutir o assunto, a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que promoveu o debate, poderá criar no próximo ano uma subcomissão específica.

Esse grupo se encarregaria de discutir o cumprimento da Lei Berenice Piana (12.764/12 - que trata da proteção dos autistas), da escola em tempo integral para essas pessoas e de sua inclusão no mercado de trabalho.

“É uma proposta que está saindo dessa audiência pública que vamos apresentar no próximo ano”, disse a deputada Carmen Zanotto (PPS-SC), uma dos parlamentares que sugeriram a audiência.

Dificuldades
A principal reclamação dos debatedores foi em relação à dificuldade de inclusão no mercado de trabalho. A coordenadora do Movimento Orgulho Autista Brasil, Claudia Moraes, lembrou que os adultos autistas muitas vezes foram recusados na escola, porque não havia leis inclusivas. Por outro lado, os que passaram por escolas especializadas não tiveram uma preparação para o trabalho.

O cartunista autista Rodrigo Tramonte é um exemplo de quem enfrentou dificuldade para se firmar profissionalmente. “Por causa da minha dificuldade de relacionamento, eu nunca durei muito nos meus empregos. Então, comecei a trabalhar naquilo que sei de melhor, caricaturas, desenhos de humor”, contou.

Segundo Tramonte, a pessoa com autismo precisa de oportunidades e de compreensão de seu jeito de ser. Como explicou Claudia Moraes, são pessoas que possuem tempos diferenciados de aprendizagem e que, na vida adulta, podem superar as dificuldades da infância.

Educação direcionada
Por isso participantes do debate defenderam uma educação especial voltada para autistas, a exemplo de clínicas-escolas que já existem pelo Brasil, como em Itaboraí (RJ).

Nesses locais, o autista recebe o atendimento de uma equipe multidisciplinar, voltado para a saúde e para a educação.

Não se trata, no entanto, de segregar, como esclareceu o editor do periódico Tribuna do Autista, Ronaldo Cruz. “A clínica-escola é uma preparação para que ele possa ingressar na sociedade”, resumiu.

Os participantes da audiência pediram ainda a efetiva aplicação da Lei Berenice Piana e reclamaram de sua regulamentação por meio do Decreto 8.368/14, que responsabilizou os centros de atenção psicossocial (CAPs), vinculados ao Sistema Único de Saúde, pelas pessoas com autismo.

“Os CAPs não são escola. Não é lá que a gente vai acolher o autista, em especial o adulto, para dar a ele condições de aprendizado e de inserção no mercado de trabalho”, observou a deputada Carmen Zanotto.

Transtorno
O transtorno do espectro autista é um transtorno de desenvolvimento. A pessoa, nos primeiros anos de vida, por motivos desconhecidos, mas que podem ser genéticos ou ambientais, apresenta problemas de interação social e de comunicação, além de comportamentos repetitivos. Estima-se que uma em cada 68 crianças nasça com autismo.  

Reportagem - Noéli Nobre
Edição - Rosalva Nunes
Fonte: Agência Câmara Notícias