Luciano Coutinho reconhece queda no desempenho do BNDES e mostra dados de recuperação

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, informou, em audiência na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, que houve uma pequena queda no desempenho da instituição ao longo dos primeiros meses deste ano. Segundo ele, contudo, essa diminuição com relação aos dados de 2013 não é preocupante.
25/03/2011 16h10

 

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, informou,  em audiência na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, que houve uma pequena queda no desempenho da instituição ao longo dos primeiros meses deste ano. Segundo ele, contudo, essa diminuição com relação aos dados de 2013 não é preocupante. O economista detalhou que os principais investimentos em 2013 foram destinados às áreas de infraestrutura e indústria, porém, com um grande crescimento da destinação de recursos para os setores de comércio e serviços. Por outro lado, o banco tem destinado um percentual menor de seus recursos para a administração pública.

Coutinho também comparou as três maiores instituições de investimentos do mundo: o CDB, da China, o KfW, da Alemanha, e o BNDES. O banco chinês tem 1 bilhão de dólares em ativos; o alemão, 657 milhões; e o brasileiro, 367 milhões. Em quarto viria a instituição de investimentos da Coreia do Sul. “Vários países desenvolvidos como a França têm bancos de investimentos, mas quase todos são menores que o BNDES”, citou.

O presidente do BNDES negou que a instituição empreste dinheiro para governos estrangeiros. “O BNDES libera recursos apenas para empresas brasileiras que tenham sido encarregadas de realizar um serviço no exterior. Nossa relação é com a empresa nacional, para gerar empregos no Brasil”, afirmou, durante audiência na Câmara dos Deputados.

Coutinho disse que a chamada exportação de serviços de engenharia é um mercado muito disputado. Segundo ele, houve nos últimos anos um crescimento disparado da China e da Coreia, em detrimento de países que estão perdendo terreno, como a Itália.

No caso da América Latina, Coutinho afirma que o Brasil responde hoje por quase 18% da exportação de serviços de engenharia à região, perdendo apenas para a Espanha, e à frente de Estados Unidos e China. “Prestamos serviços a países como Argentina, Venezuela, República Dominicana, Cuba, Peru e Equador”, citou.

O deputado Carlos Brandão (PSDB-MA) disse  que conhece muitos empreendedores brasileiros que não conseguem ter acesso ao recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, enquanto uma série de obras realizadas fora do País, como o porto de Mariel, em Cuba, e o metrô de Caracas (Venezuela), obtêm esses investimentos. “Ou o crescimento nacional não é prioridade ou estão sobrando recursos para irem lá para fora”, questionou.

Brandão, um dos parlamentares que sugeriu a realização da audiência, criticou também o fato de esses investimentos para o exterior serem sigilosos. Ainda segundo o deputado, ao longo dos últimos três meses, apenas três navios atracaram no porto de Mariel. “Enquanto isso, enfrentamos o caos no porto de Santos (SP)”, lamentou.

Também autor do requerimento para a realização da reunião, o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) quis saber se houve empréstimo a fundo perdido no caso do porto de Mariel, o que foi negado por Luciano Coutinho.

Macris também criticou o que chamou de “perda de credibilidade da instituição”, já que, segundo ele, o BNDES tem sido usado para mascarar as contas públicas, por meio de ações, para ele pouco ortodoxas, como antecipação de dividendos. O parlamentar quis saber ainda quanto do capital do banco está investido na Petrobras. “Só para a refinaria de Abreu Lima (Recife) o banco emprestou R$ 19 bilhões. O banco não avaliou os riscos?”, quis saber.

O deputado Fernando Francischini (SD-PR) questionou se o Banco irá financiar a construção de um porto no Uruguai, a exemplo do que ocorreu com o porto de Muriel, em Cuba. “Porque, nesse caso, a construção desse porto vai prejudicar diretamente construções de portos em Santa Catarina e Rio Grande do Sul que não contam com esses recursos”. Francischini acusou também o governo federal de perseguir seu estado, o Paraná, para tentar alavancar a pré-candidatura da ex-ministra e atual senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) ao governo do estado. Segundo o deputado, até o BNDES estaria envolvido nesse boicote.. O ex-secretário de Fazenda do Paraná, deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB), também afirmou que as instituições federais de fomento estão “perseguindo” o estado.

Já o deputado Pepe Vargas (PT-RS) criticou os argumentos usados pelos parlamentares de oposição sobre os financiamentos de obras no exterior realizados pelo BNDES. “Eles estão com uma visão sectária e, ainda por cima, preconceituosa. Todos os países de projeção externa têm agências para financiar serviços no exterior. O BNDES realiza esse serviço porque infelizmente ainda não temos um desses órgãos”, argumentou. Vargas negou ainda que existam critérios políticos para a liberação de recursos do banco.

Luciano Coutinho, informou ainda que o BNDES é dono de 9% das ações da Petrobras e tem recebido os pagamentos em dia pelos empréstimos realizados à estatal, como no caso da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco. Ele negou que tenha havido equívoco do banco na avaliação de riscos do empréstimo. O BNDES emprestou R$ 10 bilhões para a construção da refinaria, mas o cálculo estava equivocado, pois, mesmo depois de a Petrobras ter gasto mais R$ 25 bilhões, a obra ainda não está concluída e pode chegar aos R$ 40 bilhões.

A reunião de Audiência Pública foi presidida pelo deputado Hugo Motta (PMDB-PB) que também é autor do requerimento de convocação do Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, já aprovado na CFFC. Por conta dessa convocação o presidente do BNDES se dispor a vir pessoalmente, uma vez que na audiência anteriormente marcada com o BNDES ele enviou representantes que não foram aceitos pelo colegiado.