Presidente da CDHM repudia cartilha da PM de Pernambuco que sugere mudança de conduta das mulheres para evitar estupros

NOTA PÚBLICA Essa semana, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), defendeu as recomendações feitas pela Polícia Militar de seu estado para prevenir casos de estupro, que tem atingido altos índices. As recomendações, entretanto, são todas feitas às mulheres. Entre as dicas, estão evitar o excesso no consumo de bebidas alcoólicas, andar na companhia de pessoas de sua confiança, evitar exposição nas redes sociais.
16/09/2016 12h25

O culpado pela prática do estupro é o estuprador, a cultura sexista que retrata e impõe às mulheres o papel de objetos sexuais, que não as respeita enquanto sujeitos plenos. É lamentável que visões misóginas como as de que a vítima tem culpa ou responsabilidade sobre o estupro ainda guiem as medidas adotadas por órgãos de segurança pública.

De acordo com o 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública de 2014, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil tem, em média, um caso de estupro notificado a cada 11 minutos. Pesquisas do IPEA revelam, ainda, que 70% dos estupros registrados no país são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima. E, também, que 70% das vítimas de estupro no Brasil são crianças e adolescentes.

Assim sendo, o perigo, na expressiva maioria dos casos, mora dentro de casa ou circula nos espaços de confiança da vítima. A recomendação de andar em companhia de pessoas conhecidas, evitar exposição nas redes e não ingerir bebidas alcoólicas, portanto, não faz sentido lógico diante dos dados. É puramente um reflexo da cultura do estupro, da noção de que a vítima é quem provoca a violência sexual.

A garantia dos direitos humanos das mulheres exige, assim, que a postura adotada pelo Estado seja – ao invés de perpetuar ideias preconceituosas – atacar o centro do problema, que são os valores culturais machistas ligados ao estupro, os entraves de se denunciar esse crime – que frequentemente é desacreditado pelas autoridades, e a possibilidade de não responsabilização dos estupradores. As mulheres são sujeitos de direitos. Não admitimos que a violação de seus corpos seja objeto de culpa endossado por políticas públicas de segurança.

Deputado Padre João
Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados
Brasília, 16 de setembro de 2016