Assis do Couto destaca o dever da Câmara de contribuir na apuração da memória histórica

No Ato político de encerramento do Ano da Democracia, da Memória e do Direito à Verdade, que aconteceu entre duas audiências públicas conjuntas das comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado, o presidente da CDHM, deputado Assis do Couto, afirmou “esta Casa tem o dever de contribuir na permanência da memória histórica. É importante lembrar que o Congresso Nacional foi ferido gravemente pela ditadura de 1964. A Casa foi fechada pela força bruta da tirania, e assim permaneceu por nove meses. 173 representantes eleitos foram expurgados arbitrariamente naquele período”.
11/12/2014 19h20

Zeca Ribeiro/Banco de Imagens/Câmara dos Deputados

Assis do Couto destaca o dever da Câmara de contribuir na apuração da memória histórica

O deputado Assis do Couto em discurso no Ato político

Assis do Couto lembrou que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias desempenhou um papel relevante ao longo deste ano para fixar a memória sobre a resistência democrática na ditadura. “Criamos a Subcomissão da Verdade, Memória e Justiça, responsável pela produção, em conjunto com a Consultoria Legislativa, de um livro, de duas exposições e da realização de importantes debates sobre o tema”.

O presidente da CDHM lembrou ainda o papel desempenhado nessas atividades pela deputada Luiza Erundina, presidente da subcomissão, a quem homenageou. “Ela não pôde estar aqui conosco neste ato político requerido por ela própria, por estar em licença para tratamento médico. Desejamos a ela uma rápida e completa recuperação, com o nosso abraço de solidariedade e nosso agradecimento por todo o seu empenho”.

Relatos dos “anos de chumbo”

Paralelo ao ato público, dois livros que retratam episódios marcantes dos chamados “anos de chumbo” foram lançados na Câmara.  

Brado Retumbante” obra, em dois volumes, do jornalista e escritor Paulo Markun, aborda dois períodos (1964/1968 e 1969/1984) compondo abrangente painel da história recente do país. Os livros desvendam os processos que levaram o Brasil a entrar no período da ditadura  e, décadas depois, deixá-la para trás, retomando a trilha da democracia.

“Era um sonho antigo, nascido em 1986 e retomado há quatro anos, período dedicado às entrevistas e à construção da narrativa, juntamente com uma equipe de pesquisa. Perseguimos respostas a perguntas incômodas, como o que levou o Brasil a abandonar a democracia, e quando e como se materializou a face mais dura da ditadura, com o AI-5”, relata o jornalista.

Na produção do livro, Markun criou o portal www.bradoretumbante.org.br , onde registrou os melhores momentos dos depoimentos que podem ser pesquisados.

“Um homem torturado: nos passos de frei Tito de Alencar”, livro de Leneide Duarte-Plon e Clarice Meireles, é a reconstrução da militância de uma das figuras mais trágicas da resistência à ditadura militar.

Frei Tito, frade dominicano preso e torturado, junto com outros religiosos que deram apoio logístico à ALN de Carlos Marighella, suicidou-se anos depois em um convento francês. A tortura o quebrou psicologicamente, transformando sua vida posterior em um inferno de delírios e alucinações.

“Sua história é uma das representações mais bem acabadas do engajamento da esquerda católica na luta contra as ditaduras latino-americanas, engajamento que foi apenas um capítulo da longa história de setores da Igreja Católica em sua aliança com movimentos operários e comunistas no século XX”, conta o professor da USP Vladimir Safatle, no prefácio da obra.